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segunda-feira, janeiro 31, 2005

Índice de hoje 

- O PSD a saque (A Capital, Lisboa)
- Ouro português reduzido a metade após o 25 de Abril (Público, Lisboa)

Ouro português reduzido a metade após o 25 de Abril 

Público
por Anabela Campos

O "tesouro" da República tem vindo a encolher nos últimos anos e está já reduzido a 462,2 toneladas, ou seja, praticamente metade das reservas de ouro detidas pelo Estado português na altura do 25 de Abril, há quase 32 anos.

Só nos últimos três anos, o Banco de Portugal (BP) vendeu 144 toneladas de lingotes de ouro, operações enquadradas no "Acordo dos Bancos Centrais sobre o Ouro", que, segundo explicou o Governador da autoridade monetária nacional, Vítor Constâncio, não estão relacionadas com a difícil conjuntura financeira do país, mas com a crença de que o metal precioso é afinal um activo de fraca rentabilidade financeira.

A reserva de ouro acumulado por António de Oliveira Salazar e deixado, em 1974, nos cofres do Banco de Portugal - 865,9 toneladas - tem sido paulatinamente vendido nas últimas três décadas e estará hoje avaliada em pouco mais do que cinco mil milhões de euros (ver gráfico). Foi, pelo menos, um valor muito próximo deste (5,492 mil milhões de euros) o que registou o BP nas contas de 2003 para a reserva de ouro então detida, valor que tem em conta o preço de mercado a 31 de Dezembro (417,25 dólares a onça) daquele ano.

Curiosamente, o ouro, considerado durante anos por muitos portugueses como a "grande herança" deixada ao país por Salazar, vale agora apenas o dobro do Fundo de Pensões da Caixa Geral de Depósitos (CGD), entretanto transferido pelo actual Governo para a Caixa Geral de Aposentações. Foi precisamente o elevado défice das contas públicas portuguesas e a polémica gerada em torno do uso do Fundo de Pensões da Caixa, avaliado em 2,5 mil milhões de euros, pelo ministro das Finanças, Bagão Félix, para cumprir as metas de défice impostas por Bruxelas, que colocou a questão da venda do ouro em cima da mesa. O ex-ministro das Finanças de Cavaco Silva, Miguel Cadilhe, atirou mais uma "acha para a fogueira", ao sugerir a constituição de um fundo extraordinário de investimento - para utilizar no âmbito de medidas a tomar para reduzir o peso da Administração Pública na economia - financiado pela venda do ouro que o Estado ainda tem no BP. "Admito que Portugal não tenha para o ouro alternativa mais valiosa do que investir num programa sério de redimensionamento do Estado, modernização da Administração Pública, saneamento financeiro estrutural e correlativo impulso na produtividade nacional", defendeu Miguel Cadilhe numa entrevista recente ao "Jornal de Notícias".

Em caso de venda, o Estado só pode ficar com as mais-valias
A proposta do ex-ministro das Finanças não teve para já grande eco, não porque eventualmente vender o ouro seja ainda considerado hoje um sacrilégio ou um crime de lesa-pátria, mas porque, em princípio, o BP só poderia entregar aos Estado as mais-valias conseguidas com a alienação do metal precioso, e o não o valor global da venda. Miguel Beleza, ex-ministro das Finanças e ex-Governador do BP, apesar de considerar que o ouro como reserva é hoje um activo "pouco rentável e com grande risco", não concorda com a sua venda para financiar o Estado, o que aliás não é permitido à luz da lei comunitária e dos estatutos do banco central português. Beleza frisa mesmo, em declarações ao PÚBLICO: "O Banco Central não pode financiar o Estado." Silva Lopes, ex-Governador do BP, tem uma opinião semelhante.

Questionado sobre a hipótese de o Estado financiar o défice com a venda de ouro, o ex-vice-Governador do BP, Walter Marques afirmou: "Além de não ser permitido, não me parece que seja uma solução razoável. Nem há países a avançar nesse sentido. O Banco Central Europeu [BCE] teria de o autorizar." "Teríamos de vender a totalidade do ouro para ter uma mais-valia de 10 por cento do seu valor. Não me parece que faça sentido", disse ainda Walter Marques. O economista Francisco Correia Guedes, ouvido pelo PÚBLICO, lembra a este propósito que o Governo alemão sugeriu que o Bundesbank vendesse ouro para ajudar a cumprir o Pacto de Estabilidade, mas depois recuou porque Bruxelas não autorizaria este tipo de solução. Não é com a venda de ouro para cobertura do défice que se resolvem as dificuldades do país, afirmam vários economistas.

De qualquer forma, desconhece-se qual seria a potencial mais-valia da venda da reserva do ouro nacional, já que o BP recusa-se a revelar o actual valor contabilístico do metal precioso, limitando-se a dizer que a mais-valia resulta do diferencial entre o preço de venda e o custo médio ponderado a que o activo está registado nas contas do banco, indicador que é confidencial. Os últimos dados oficiais sobre a potencial mais-valia do ouro detido pelo Banco Portugal remontam a 1995. Nesta data as 624,9 toneladas de ouro português valiam a preços de mercado 4,6 mil milhões de euros mas estavam registadas no balanço do banco central com um valor de apenas 3,7 mil milhões de euros, o que dava uma mais-valia de 900 milhões de euros.

França e Alemanha mais conservadoras na venda
Quais são as reservas de ouro ideais para país? Deverá vender-se o ouro todo? Não há uma resposta definitiva a esta questão - pelo menos não houve da parte dos economistas e ex-responsáveis do BP contactados pelo PÚBLICO. E se olharmos para as reservas de ouro de alguns dos países mais desenvolvidos do mundo nos últimos 20 anos (ver gráfico), verificamos que, apesar da tendência ser para vender, não há uma política única. Vemos bancos centrais de países como a Inglaterra e o Canadá - sobretudo este último - a vender em força, mas observamos outros, como os dos EUA, Alemanha, França e a Itália, a manter as reservas elevadas e praticamente ao mesmo nível da década de 70.

"Os bancos centrais de países como a França e a Alemanha [também subscritores do acordo] são mais conservadores face à venda do ouro do que o seu discurso oficial poderá fazer crer", afirma o ex-vice-Governador Walter Marques. "Os países são cautelosos na venda, não só porque não querem perturbar o mercado, mas também porque há ainda uma certa mistificação do ouro junto das populações", acrescentou. Mas Walter Marques admite também que há sempre a ideia que o ouro funciona como uma reserva monetária, que poderá sempre ser usada numa situação de ruptura do sistema. E acrescenta: "O discurso de que o ouro é para vender, no fundo serve para sustentar o actual sistema monetário." Os bancos centrais dos países da Zona Euro, admite Walter Marques, já não são donos da gestão das suas reservas, cujas orientações gerais estão nas mãos do BCE.

O PSD a saque 

A Capital
por Luís Osório

Como diz Nuno Brederode dos Santos a indignação é um espasmo da inteligência. Quando nos indignamos perdemos a capacidade de raciocinar, e, em consequência, de olhar para lá daquilo que parece ser mais óbvio. Mas existem momentos em que a indignação é a única reacção possível para os que defendem um padrão ético mínimo no exercício e na luta pela ocupação de cargos públicos.
O que Santana Lopes fez no passado sábado, insinuando que José Sócrates tem uma vida privada pouco convencional, é o momento mais repugnante de que me recordo em toda a história da democracia portuguesa. Nestes trinta anos já aconteceram muitas traições, boatos, silenciamentos, mas nenhum primeiro-
-ministro tinha descido tão baixo.
O desespero deste homem, que sente ter a sua carreira política presa por um fio, não pode ser desculpa para aquilo que aconteceu. Dá ideia de que Santana Lopes, para poder conservar uma réstia de esperança de sobrevivência, era capaz de penhorar a família. Mas esse desespero é uma vergonha para o País e, também, uma imensa humilhação para o grande partido fundado por Francisco Sá Carneiro. Esta loucura em que se transformou o PSD, e que levou ao afastamento compulsivo das suas maiores figuras, é a prova de que as pessoas, em situações-limite, são capazes dos actos mais fora da realidade. O mal está feito, e este primeiro-ministro não só envergonhou o País como também, suprema demência, disputa mesmo assim a possibilidade de continuar a ser primeiro-ministro. É como se nada nos últimos meses tivesse acontecido, é como se estivéssemos na presença de um esquizofrénico que manda colocar a palavra competência nos palanques onde actua e que é aplaudido de pé por um bando de cegos que se dizem representantes do PSD, um partido que aprendi a admirar nas suas contradições, mas sobretudo na sua enorme capacidade de descobrir, em cada momento, as figuras que melhor corporizassem a aspiração colectiva.
Há ministros que fizeram um bom trabalho e que continuam nas listas. António Mexia e Aguiar Branco, por exemplo. Só eles poderão responder sobre o porquê de continuarem a aceitar estar neste barco de náufragos. Mas tendo razões para isso, e acredito que terão, o que mais inquieta é saber que esta campanha eleitoral ainda não começou. O País terá de aguentar mais vinte dias de notoriedade de Santana Lopes, terá de aguentar mais vinte dias de uma vergonha que eu não pensava ser possível. Portugal transformado num país latino-americano, com um actor de novela patético, inconsequente e que é capaz de tudo.
O PS poderá ter maioria absoluta, e para o país é melhor que a tenha. Mas que isso seja aproveitado pelo PSD para limpar a casa e fazer regressar os melhores. Nesse quadro, homens como Luís Marques Mendes, Marcelo Rebelo de Sousa ou António Borges podem ser boas hipóteses para restaurar a ordem e expulsar os impuros. Que os expulsem de vez e que tenham aprendido a lição. Em nome do país e, também, em nome da memória de Sá Carneiro.

domingo, janeiro 30, 2005

Índice de hoje 

- La "Eurovisión" de los cocineros (ABC, Madrid)
- La Comisión Europea de Durao Barroso afronta sus primeras críticas (ABC, Madrid)
- La Chine, star de Davos (Le Soir, Bruxelas)
- Santana contra mundis por Vasco Pulido Valente (Público, Lisboa)

La "Eurovisión" de los cocineros 

ABC
por CARLOS MARIBONA

LYON. El Bocuse d´Or, la competición culinaria que los franceses, siempre chauvinistas, consideran el campeonato del mundo de cocineros, es a la cocina lo que el festival de Eurovisión es a la música. Un auténtico show en el que prima el espectáculo sobre la calidad y en el que los intereses nacionales y comerciales se imponen a cualquier otra circunstancia. El martes y el miércoles de esta semana, Lyon, la ciudad donde tiene su restaurante el mítico cocinero Paul Bocuse, que da nombre al premio, ha sido escenario de la décima edición de este concurso tan falto de interés en su resultado como impresionante en su forma.

Veinticuatro cocineros representando a otros tantos países preparan sus platos en directo, en unos pequeños boxes situados en el escenario, mientras sus seguidores, ondeando banderas nacionales y haciendo sonar bocinas, cencerros y otros instrumentos ruidosos, les jalean y animan desde las gradas en un espectáculo más propio de un acontecimiento deportivo que de un ejercicio serio de cocina. Cocinar necesita concentración y silencio, algo imposible en el salón de la Eurexpo lionesa donde se celebra la final.

Cada vez que un concursante acaba su plato, en medio de un enorme estruendo, la bandeja debe pasar por delante de los veinticuatro cocineros, todos amigos de Bocuse, que forman el jurado internacional, uno por país participante. En el caso de España, Juan Mari Arzak. La bandeja sigue luego su recorrido: primero a un estudio fotográfico para inmortalizar la composición; luego, por delante de la larga hilera de fotógrafos y cámaras que asisten al evento; finalmente, un equipo de camareros emplata para que los miembros del jurado lo prueben y lo valoren. Para entonces han pasado más de quince minutos, tiempo suficiente para que su sabor no se parezca en nada a lo que el cocinero había creado.

Todos pagan

Cada concursante tiene que preparar dos platos, uno de carne y otro de pescado, con productos previamente elegidos por la organización. Este año, rape de Islandia y ternera de Dinamarca. Ambos países pagan una fortuna para estar presentes en este espectáculo con evidente influencia publicitaria. Porque en el Bocuse todos pagan: el Ayuntamiento de Lyon aporta cincuenta millones de las antiguas pesetas por la repercusión que el acontecimiento tiene para la ciudad; los concursantes, dos millones cada uno por el «privilegio» de estar presentes; los patrocinadores, desde aguas minerales hasta conocidas marcas de foie-gras, también contribuyen generosamente.

El jurado, que este año estaba presidido por Michel Bras, uno de los grandes chefs de Francia, proclamó casualmente vencedor al representante francés. No importó que su carne estuviera pasada de cocción. Había que demostrar al mundo que la cocina francesa, pese al criterio de muchos, sigue siendo la mejor. Pero lo peor no fue este resultado cantado, sino que los siguientes países clasificados (Noruega, segunda; Dinamarca, tercera; Finlandia, Suecia e Islandia) sean todos nórdicos, como se sabe grandes potencias mundiales en gastronomía. Quien haya viajado por allí habrá comprobado que en algunos hay poco más que carne de reno y arenques. Tal vez tengan algo que ver los patrocinadores de este año y de años anteriores (Islandia, Dinamarca, Noruega...). Pura casualidad. Las verdaderas potencias gastronómicas, las que pueden hacer sombra a Francia, quedaron fuera. Ni Italia, ni Japón, ni China... ni España. Nuestro representante, Mario Sandoval, fue castigado con el penúltimo puesto, por delante de Suráfrica. África, para los franceses, empieza en los Pirineos.

La sensación final es que se trata de un concurso en el que no cuenta la calidad de la cocina ni de los cocineros. Lo que importa es el dinero y la política, siempre al servicio de la grandeza de Francia. Un concurso tan anticuado y caduco como las salsas repletas de nata estancadas en los años sesenta que siguen embadurnando la mayoría de los platos que se sirven en el mítico restaurante lionés de Paul Bocuse. Un lugar que, como hemos podido comprobar estos días, está en declive. Ni por su servicio de sala -puro desastre, puro desconcierto-, ni por la calidad de su cocina merece seguir siendo considerado como un templo de la gastronomía mundial.

La Comisión Europea de Durao Barroso afronta sus primeras críticas 

ABC
por ENRIQUE SERBETO.CORRESPONSAL BRUSELAS

Aún no ha cumplido los primeros cien días de gestión y ya se escuchan críticas contra el nuevo presidente de la Comisión, el portugués José Manuel Durao Barroso. En realidad, la marejada que rodea a esta comisión empezó antes de que Barroso ocupase formalmente su despacho oficial en el edificio Berlaymont de Bruselas el 22 de noviembre, por lo que a pocos ha extrañado que el antiguo primer ministro portugués se esté acostumbrando a vivir bajo cierto estado de tensión, al menos políticamente hablando.

Los comentarios críticos por las evidentes faltas de coordinación en el seno de la Comisión o hasta los enfrentamientos más o menos abiertos entre algunos de los comisarios se hacen cada vez en más alta voz en el entorno de las instituciones europeas. Algunas fuentes diplomáticas no han ocultado que últimamente algunas de las reuniones del Coreper se están quedando en agua de borrajas, porque la Comisión no ha producido materiales suficientes para poner sobre la mesa. Por ejemplo, en el consejo de ministros extraordinario que se celebró a causa del maremoto de las costas asiáticas, Barroso se comprometió a presentar un proyecto sobre la creación de mecanismos europeos de intervención rápida para que fuese analizado en la reunión que se celebra el lunes, pero hasta ahora no se conoce nada sobre la suerte de esta idea y da la impresión de que lo que el presidente de la Comisión enseñará a los ministros de Asuntos Exteriores tendrá que disimular esta carencia.

Discrepancias poco disimuladas

En este caso entraban en la discusión las ideas del propio Barroso con las del comisario de Ayuda Humanitaria, Louis Michel, o la de Relaciones Exteriores, Benita Ferrero, y da la impresión de que, entre unos y otros, la cuestión ha quedado disuelta en los pasillos. En otros casos, como sucedió la semana pasada, se han visto discrepancias poco disimuladas entre la comisaria de competencia, la holandesa Neelie Kroes, y el alemán Gunter Verheugen, responsable de Empresas e Industria.

Algo comprensible, según algunos observadores, porque se trata por primera vez de una comisión con 25 miembros, muchos de los cuales carecen de experiencia europea. Barroso renunció en su día a la figura de los «supercomisarios» encargados de coordinar ciertas áreas, por temor a que se le acusara de favorecer a los países grandes que estaban pidiéndolo, y por ahora se echa en falta cierto dinamismo en la gestión corriente de la Comisión. Algunos países, Francia entre ellos, ya empiezan a inquietarse por las consecuencias que esta aparente inoperancia podrían tener, en la discusión sobre las perspectivas financieras, que han de quedar aprobadas antes del final de la actual presidencia luxemburguesa y en la que se espera que el Ejecutivo comunitario tenga un papel fundamental.

El jueves, Barroso presentó ante el Parlamento su programa para los próximos cinco años y sus ideas fueron recibidas con un ambiente casi de indiferencia, algo inesperado en este trámite teóricamente crucial para sus años de mandato. En resumen, Barroso prometió reactivar la economía europea y poner en marcha los llamados «objetivos de Lisboa», algo en lo que otros han fracasado antes que él. «A mí me pareció decidido, con una propuesta muy clara que se basa en el binomio de que el crecimiento es la fuente de empleo y desde luego, la comparación con Prodi me pareció que era muy favorable para Barroso», asegura Íñigo Méndez de Vigo, eurodiputado popular. Los socialistas, sin embargo, le dijeron que si bien los objetivos de reactivación del empleo les parecían positivos, no estaban muy seguros de cómo va a llevarlos a cabo. El portavoz Martín Schultz utilizó el ejemplo de la botella medio llena, medio vacía, y amenazó con mantener a la comisión bajo estrecha vigilancia.

Beligerancia socialista

De hecho, uno de los fenómenos más relevantes de esta legislatura es la beligerancia de los socialistas en el Parlamento, que por primera vez lograron frustrar la formación de la Comisión a causa del caso Buttiglione y que parecen decididos a hacerle pagar a Barroso su participación en la célebre «foto de las Azores» con Bush, José María Aznar y Tony Blair, en vísperas del comienzo de la guerra de Irak. Pero la legislatura no ha hecho más que comenzar y el ex primer ministro portugués no ha enseñado todavía todas sus cartas. «Que nadie se confíe, políticamente Barroso tiene un instinto depredador y hasta ahora no hemos llegado a conocer sus capacidades», comenta un alto funcionario de la Comisión.

La Chine, star de Davos 

Le Soir

Les stars d'Hollywood ont cédé ce samedi à Davos leur place à la Chine, qui a mené une opération de séduction de l'élite libérale en promettant une économie plus ouverte et la mise au rebut du système économique socialiste.

Si la veille l'actrice Sharon Stone, qui avait récolté en quelques minutes un million de dollars pour combattre le paludisme en Tanzanie, avait été sous les projecteurs, c'était samedi au tour du vice-Premier ministre chinois Huang Ju.

Dans un discours vantant le miracle économique chinois sans occulter les difficultés, et pariant que d'ici 2020 la richesse de son pays aura été multipliée par quatre, il a promis une Chine plus ouverte aux investisseurs. Le système économique socialiste de marché a été reconnu comme étant loin d'être parfait, a lancé M. Huang à quelques centaines des plus grands patrons du monde.

La Chine entend participer à la coopération internationale et travaille à un système économique plus ouvert, a-t-il indiqué en soulignant qu'une Chine plus ouverte et plus prospère ne servira pas seulement ses 1,3 milliard d'habitants, mais le monde entier. Nous continuerons d'améliorer les conditions pour les investissements» et «le gouvernement chinois accueille chaleureusement et encourage les investisseurs étrangers, a déclaré M. Huang.

Au moment où le vice-Premier ministre chinois relevait que des risques géopolitiques et le terrorisme sont des facteurs négatifs pour la croissance et la prospérité, le directeur de l'Agence internationale de l'énergie atomique (AIEA), Mohammed ElBaradei, a laissé entrevoir un espoir de freiner les ambitions nucléaires de l'Iran. Mohammed ElBaradei a affirmé recevoir une bonne coopération de la part de l'Iran sur la question du nucléaire, venant tempérer les craintes soulevées par le président George W. Bush.

Celui-ci a menacé le 17 janvier l'Iran d'une action militaire en cas d'échec des négociations censées amener Téhéran à renoncer à l'arme atomique. Sur les questions économiques, les participants ont manifesté leurs inquiétudes face à la baisse du dollar et à son impact sur la croissance mondiale.

Le président de la Banque centrale européenne Jean-Claude Trichet a réaffirmé que la volatilité des taux de changes est malvenue et indésirable pour l'économie mondiale.

José Manuel Barroso, président de la Commission européenne, qui a décrété que l'heure du renouveau européen est arrivée, a jugé que la mise en oeuvre d'une réforme économique est nécessaire pour relancer la croissance économique.

En marge du Forum, une vingtaine de ministres du Commerce ont constaté que les négociations du cycle du développement de Doha, lancé fin 2001, sont encore loin de déboucher sur un accord. En juillet dernier, les 148 pays membres de l'Organisation mondiale du commerce (OMC) avaient franchi une étape en acceptant le principe de la suppression des subventions pour les Européens et un engagement, par les pays émergents, à abaisser leurs droits de douane.

Il nous reste beaucoup de travail à faire et très peu de temps, a déclaré le ministre suisse de l'Economie Joseph Deiss qui organisait la réunion, à laquelle assistait également le représentant américain pour le commerce Robert Zoellick, le commissaire européen Peter Mandelson, le ministre brésilien des Affaires étrangères Celso Amorim et le ministre du Commerce indien Kamal Nath.

Aucun progrès n'a été fait sur ce qu'il y aura de plus difficile à décider à la conférence de Hong Kong en décembre, c'est-à-dire chiffrer et dater les grandes lignes d'une réforme du commerce mondial censée rééquilibrer les échanges au profit des pays en développement. Il reste peu de temps et nous sommes encore loin» d'un accord, a dit Peter Mandelson en jugeant cependant avoir «mis en place quelques jalons qui nous guideront jusqu'à Hong Kong.
(D'après AFP)

Santana contra mundis  

Público
por Vasco Pulido Valente

A campanha de Santana Lopes começa a merecer algum interesse pela sua própria extravagância. Como trata dele, e só dele, acabou por se tornar num romance de aeroporto sobre a loucura e queda de um político. Espero que alguém o escreva ou, pelo menos, que a "Oficina do Livro" o encomende. A personagem intriga e a história da ambição falhada foi sempre um tema literário popular. Além disso, Santana passou por tudo: pelo partido, pelo governo, pelos jornais, pela televisão, pelo futebol e até, ou principalmente, pela chamada "noite de Lisboa". O melodrama e a "modernidade" estão lá, basta aproveitar; e, ainda por cima, ele não se esqueceu de fornecer um fim digno do seu princípio. Não sai com um suspiro, sai com um estrondo. Não deixa de ser admirável, pelo puro espectáculo, a fúria e a cegueira com que tenta salvar a sua amada pessoa. O país desapareceu e o PSD também. Ficou ele. A realidade excede a ficção. Quem se lembraria de um cartaz como o do "Contra Ventos e Marés"? Parece o desafio de Rastignac: "E, agora, Paris, nós dois". Portugal não entra ali, é Santana contra mundis, mais nada.

Claro que, neste romance, o inimigo, omnipresente e perverso, persegue o herói sem culpa, porque obrigatoriamente Santana tem de triunfar da injustiça, da traição, da indiferença, da manha e, em geral, da maldade humana. Mas não sem luta, não sem provar primeiro a sua força e a sua razão. A Sampaio, que o tramou. Aos companheiros, que o traíram. Aos rivais, que o esfaquearam. Ao CDS, que o despreza. À "mega-fraude" das sondagens que o dão por acabado. E à imprensa, que "não o leva ao colo". No fundo, ao destino. A glória virá, depois do martírio, do incorrupto povo do PPD/PSD. Não porque esse povo descubra de repente qualquer vantagem em o eleger. De certa maneira, Santana já largou a política e, politicamente, a sua campanha não faz sentido. O que interessa no romance é o reconhecimento, na última cena do último capítulo, da íntima natureza do herói e o perdão dos seus pecados; o reencontro do PPD/PSD com o seu filho querido. Quer aconteça ou não, na noite de 20 de Fevereiro, e com certeza que não acontece, esta apoteose deve fechar a carreira sentimental, imensamente pública, de Santana Lopes. O menor vestígio de pudor e bom senso seria absurdo.

sábado, janeiro 29, 2005

Índice de hoje 

- O caminho para Auschwitz por Vasco Pulido Valente (Público, Lisboa)
- Um dia de campanha (Público, Lisboa)
- Les deuxs "projets" européens por Valéry Giscard d'Estaing (Le Figaro, Paris)
- Rayonnement ultraviolet dans la nuit martienne (Le Monde, Paris)

Rayonnement ultraviolet dans la nuit martienne 

Le Monde

La sonde Mars Express de l'Agence spatiale européenne (ESA), en orbite autour de la Planète rouge depuis un an, a détecté grâce à son spectroscope Spicam (Ultraviolet and infrared atmospheric spectrometer) une émission ultraviolette dans la nuit martienne. Cette source lumineuse provient, selon un article publié dans la revue Science du 28 janvier, de molécules d'oxyde d'azote (NO) qui passent de l'état excité à l'état stable en émettant de l'ultraviolet.

Les chercheurs se sont interrogés sur l'origine des atomes d'oxygène et d'azote qui les composent. Lorsque Mars est exposée au Soleil, le rayonnement ultraviolet de notre étoile décompose les molécules de dioxyde de carbone (CO2), principal constituant de l'atmosphère de Mars, et d'azote (N2).

Ainsi, dans la haute atmosphère de Mars, au-delà de 120 km d'altitude, des atomes d'azote et d'oxygène sont produits en continu sans que leur densité soit suffisante pour qu'ils se recombinent spontanément. La concentration des atomes augmente lorsqu'ils descendent dans l'atmosphère, au gré des vents. Vers 70 km d'altitude, leur concentration est suffisante pour qu'ils se recombinent en émettant un rayonnement ultraviolet.

SUR TERRE AUSSI

Les scientifiques ont constaté une émission plus intense au pôle Sud lors de la nuit hivernale glacée. Celle-ci provoque le gel de 30 % de l'atmosphère martienne transformée en calotte polaire de neige carbonique de 1 mètre d'épaisseur. Cette condensation engendre un appel d'air vers le pôle qui se traduit par des vents verticaux à l'origine de l'augmentation de l'émission de rayonnement ultraviolet observé.

Ce phénomène existe aussi sur Terre dans la nuit de l'hiver polaire. Jean-Loup Bertaux, directeur de recherche au service d'aéronomie du CNRS (Verrières-le-Buisson, Essonne) et responsable du Spicam, souligne l'importance de cette observation dans la perspective des futures missions martiennes. La meilleure connaissance du climat sur la Planète rouge permettra d'étudier de nouvelles techniques de freinage atmosphérique afin de réduire le coût des expéditions.

Les deux "projets" européens 

Le Figaro
por Valéry Giscard d'Estaing *

Il est difficile pour une Française ou un Français de se faire une opinion précise sur les grands enjeux européens. Cela tient à des facteurs objectifs: les moyens d'information, quel que soit le talent des journalistes, restent ancrés dans les cultures nationales. De ce fait, dans les analyses ou les comptes rendus, l'Europe est toujours présentée «vue de France», comme elle l'est ailleurs «vue d'Espagne» ou «vue de Suède». Rarement «vue d'Europe»...

D'autre part, la nature des grands médias les pousse à privilégier dans l'information l'immédiat, voire l'instantané. Il est rare que l'annonce d'une nouvelle dépasse quatre-vingt-dix secondes et que cette nouvelle ne soit pas une nouvelle du jour. Cette attitude se prête mal à la connaissance des problèmes de l'Europe. Les décisions «quotidiennes» sont rares et généralement décidées à l'avance. Et l'Europe ne se construit pas dans l'instant, mais dans la durée et le moyen terme: il a fallu dix ans pour adopter l'euro et trois ans pour que les gouvernements approuvent la Constitution européenne.
Aussi, je remercie Le Figaro de me donner l'occasion de présenter les problèmes européens «vus d'Europe». Cela correspond à une mue singulière que j'ai sentie s'effectuer en moi: à force de franchir les frontières, de m'entretenir avec les responsables et d'en profiter pour faire des escapades dans les différentes cultures, je suis devenu européen. C'est donc un Européen français qui s'adresse à vous.

Depuis l'origine, c'est-à-dire l'envoi de la lettre du ministre des Affaires Etrangères français, Robert Schuman, à ses collègues le 9 mai 1950, proposant de mettre en commun les ressources du charbon et d'acier pour rendre impossible la course au réarmement, les dirigeants européens se sont séparés en prenant deux directions différentes. Les uns se sont ralliés à la proposition qui décrivait la démarche comme une première étape vers une fédération européenne. Les autres, regroupant la Grande-Bretagne et les pays scandinaves, ont opposé un refus et se sont engagés dans la voie d'une zone de libre-échange, correspondant davantage à leurs vues.

Pendant vingt ans, les deux systèmes, les deux «projets» – Marché commun et zone de libre-échange – ont coexisté en Europe. Puis une évolution s'est amorcée. Des changements politiques en Grande-Bretagne et la crainte traditionnelle de voir s'organiser un continent européen dont elle serait exclue l'ont conduit à poser sa candidature au Marché commun. Elle l'a rejoint en 1972, entraînant avec elle l'Irlande et le Danemark et ouvrant la voie aux élargissements qui allaient suivre.

D'abord ceux des Etats dont les institutions politiques autoritaires avaient rendu impossible jusque-là leur participation au projet: Grèce, Espagne et Portugal; puis celles des Etats isolés dans la zone de libre-échange expirante, abandonnée par la Grande-Bretagne: Suède, Finlande et Autriche. Enfin, la grande vague des Etats du Centre et de l'Est de l'Europe, libérés du carcan soviétique.

Ces élargissements n'ont pas fait disparaître les ambiguïtés et les contradictions entre les deux approches: ils les ont simplement transférées à l'intérieur du système. Ainsi l'Union européenne vit aujourd'hui avec une double culture: celle qui lui vient de l'élan fondateur et celle qui s'exprime par la préférence pour la zone de libre-échange. Comment peut-on les résumer en leur état actuel?
Le premier projet vise à doter l'Europe d'une structure politique forte et reconnue à l'extérieur. Il prévoit le moment où l'Europe pourra s'exprimer d'une seule voix et agir d'une manière concertée.

Il s'appuie sur le fait que l'Europe des vingt-cinq a déjà dépassé la taille critique permettant de maintenir l'unité de l'ensemble, avec ses 450 millions d'habitants comparés aux 290 millions d'Américains. La tâche principale de cette Europe consiste à poursuivre son intégration identitaire, pour éveiller la conscience européenne, et à combler son retard technologique et économique. Elle doit respecter scrupuleusement les compétences propres des Etats membres. Elle suppose, enfin, un engagement personnel fort des dirigeants politiques. On peut la désigner sous le nom d'«Europe européenne».

Le second projet, celui de la zone européenne de libre-échange, est d'une inspiration toute différente. Il tend à établir en Europe, et dans son voisinage, un espace où les échanges soient libres et la concurrence loyale. Les évolutions possibles seront animées par les demandes du marché. Les institutions européennes se contentent d'assurer un fonctionnement correct du marché. Sur le plan politique, les compétences essentielles restent du ressort des Etats.

L'Europe vise seulement à assurer une coordination flexible entre les positions des Etats membres. Le marché a vocation à rester ouvert: les élargissements peuvent être accueillis, dès lors qu'ils respectent les règles du marché. Cette souplesse a l'avantage de s'accommoder de postures différentes dans les relations avec les Etats-Unis. On peut appeler ce projet: «l'Espace européen».

Dans la vie concrète de l'Union, ces deux projets poussent à adopter des solutions différentes. Par exemple, le premier invite à la prise de décisions à la majorité qualifiée, le second protège la règle d'unanimité. Le premier préfère une Commission réduite, ayant le caractère d'un collège exécutif. Le second s'accommode d'une Commission nombreuse et diluée, à condition que les fonctions essentielles pour le marché soient solidement tenues. C'est ainsi que dans trois sur quatre des récentes Commissions, le portefeuille du Commerce international a été confié à un Britannique.

Comment la Constitution européenne se positionne-t-elle par rapport à ces deux projets? Peut-on la lire d'une certaine manière à Rome et d'une autre à Londres? Je peux apporter sur ce point une réponse précise: la Constitution s'inscrit clairement dans la ligne du premier projet, celui de l'Europe européenne, mais elle évite de franchir les limites qui la rendraient inacceptable aux tenants du second.

Il y a une raison simple à cela: le traité a besoin d'être adopté à l'unanimité, en raison des règles juridiques existantes. Le mérite de la Convention est d'avoir réussi à proposer un texte qui rende gouvernable l'Europe européenne tout en demeurant acceptable pour les tenants de l'espace européen. Et l'on voit se dessiner la perspective historique: celle d'une Europe européenne, forte et identitaire, s'inscrivant au sein d'un espace européen périphérique. C'est cette stratégie que la Constitution vise à privilégier.

Il faudra du temps, de la clairvoyance et de la volonté politique pour y parvenir. Les pères fondateurs de l'Europe n'en ont pas manqué. Faisons confiance aux enfants de l'Europe pour prendre le relais!
A bientôt.
* Ancien président de la République

O caminho para Auschwitz 

Público
por Vasco Pulido Valente

O mundo não esqueceu Auschwitz. Mas também está longe de explicar ou compreender Auschwitz, se Auschwitz é compreensível e explicável. Só se pode medir o caminho que levou da Europa do fim do século XIX e princípio do século XX à catástrofe da Shoah. Convém dizer que foram europeus que exterminaram europeus: mais precisamente, que a Shoah foi um fracasso da civilização europeia, coisa que não costuma ser dita. Vale a pena contar a história do princípio. Em 1914, a Europa (em expansão económica desde 1897-98) estava no auge do seu poder e representava, para ela própria e para a humanidade, o mais perfeito exemplo de tolerância, liberdade e justiça. A guerra acabou com tudo isso. Apesar de alguma tensão difusa, ninguém no fundo a queria e muita a gente a considerava impossível. De qualquer maneira, a guerra veio, na presunção geral que não ia durar mais de quatro meses. Durou cinco anos. Morreram nove milhões de combatentes, milhões de civis (quantos ninguém sabe ao certo) e a Europa inteira ficou exausta e pobre.

Até hoje, não se conseguiu perceber, senão à superfície, essa carnificina eminentemente evitável e desnecessária. Nenhum dos beligerantes ganhou nada, todos perderam. Da guerra ficou, além da ruína, a violência. Uma violência que nos vinte anos seguintes persistiu em guerras civis, pronunciamentos, revoluções, purgas, represálias; que se transformou em fascismo, em comunismo e em nazismo; que apareceu com a sua face "moderna" na eliminação dos "kulaks" e no terror de Estaline. Uma violência que submergiu a Europa: os países bálticos, a Rússia, a Polónia, a Jugoslávia, a Áustria, a Alemanha, a Itália, a Irlanda e a Espanha. Uma violência que, em 1939, Hitler consumou e estendeu ao puro Mal da Shoah. De 1914 a 1945, menos de meia vida, uma Europa próspera, pacífica, segura, confiante, que se aproximava pouco a pouco da democracia e do Estado previdência caiu na barbárie, por muitas razões sem importância e sem a sombra de uma razão plausível. O que Auschwitz nos deve lembrar é a ilusão da perenidade do que temos por um momento e a título precário. Ninguém, rigorosamente ninguém em 1914 imaginaria Auschwitz e, no entanto, lá chegámos. "Chegámos", no plural, porque chegou a Europa, agora "unida" e de regresso à convicção da sua superioridade e sabedoria.

Um dia de campanha 

Público
por José Manuel Fernandes

O que é que ontem se discutiu? Pagamento de impostos fora de tempo, credibilidade das sondagens e um parecer jurídico dado em condições eticamente discutíveis. Assim nenhum eleitor se mobiliza

Há momentos em que, mesmo perante o desânimo que suscita o que se vê à nossa volta, se sente vontade de fazer um discurso mais positivo e de "puxar para cima". De procurar elementos encorajadores na campanha eleitoral, de procurar nos programas eleitorais as suas boas ideias, de encontrar quem actue no espaço público com absoluta rectidão. Nessas alturas a realidade raramente nos surpreende: atira-nos logo com um balde de água fria para cima.

Basta reparar nas três notícias que dominaram os noticiários de ontem.

A primeira, e mais grave, foi a dos atrasos com que o ainda primeiro-ministro pagou alguns dos seus impostos. Não os juros de alguns dos seus impostos, como o próprio tentou dar a entender, mas impostos que tinham prazo de pagamento rigidamente estipulados por lei. Sem entrar no detalhe próprio de fiscalistas, se um acerto nas contas do IRS pode aceitar-se, o que qualquer contribuinte cumpridor sabe é que não pode reter o IVA que cobrou em nome do Estado sem incorrer em crime. Explicando melhor: os acertos anuais na cobrança de IRS podem dar origem a devoluções de dinheiro ou a novos pagamentos por parte do contribuinte, sendo aceitáveis disputas sobre os montantes exactos em dívida; já a entrega ao Estado do IVA que um contribuinte com trabalho independente (como era o caso de Santana Lopes) cobra em nome desse Estado é um dever cujo incumprimento representa abuso de confiança fiscal. Se Santana o fez, por pequeno que seja o valor em causa, isso é de uma extrema gravidade. No limite dá prisão. No mínimo exige uma detalhada e circunstanciada explicação - que não foi dada na nota emitida ontem ao início da noite.

A segunda teve também como epicentro Santana Lopes: a sua feroz investida contra as sondagens, de que se disse "especialista" apenas se esquecendo de referir, como prova curricular, a sua passagem pelo célebre Centro de Sondagens da Moderna. Mas sobre as quais demonstrou muita ignorância, já que até poderia tirar partido das sondagens dizendo que estava em campanha para conquistar a confiança dos muitos indecisos e que tudo está em aberto. Ao disparatar e ameaçar processos as empresas de sondagens fez o contrário: mostrou falta de estômago, desnorte e desespero. Tudo sinais negativos para os indecisos.

Por fim Bagão Félix criticou Freitas do Amaral por este ter feito um parecer contra uma decisão do accionista - o Estado, representado pelo Governo - que o nomeou para presidente da Assembleia Geral da Caixa Geral de Depósitos. Apesar de ser natural que Bagão Félix agisse por motivações políticas, já que Freitas entrou anteontem na campanha para apoiar o PS, a verdade é que o professor de Direito não pode querer ser ao mesmo tempo "jurisconsulto independente", desempenhar cargos numa empresa do Estado, ser "senador" da República e ter uma intervenção política de peso. Se, como jurisconsulto, pensa mesmo que o que o Governo fez com o fundo de pensões da CGD é inconstitucional, então devia pedir a demissão do cargo que ocupa e depois dar os pareceres que entendesse. Falando com a mesma frontalidade que Freitas do Amaral costuma reivindicar para si mesmo, a verdade é que ontem lhe faltava moral para reivindicar o estatuto de independência própria dos jurisconsultos que não beneficiam de nenhuma mordomia, por menor que esta seja. - e que a forma como actuou mostrou falta de lealdade perante o accionista Estado. Ninguém pode sentar-se em todas as cadeiras ao mesmo tempo.

sexta-feira, janeiro 28, 2005

Índice de hoje 

- Uma personagem de romance (A Capital, Lisboa)
- O exterminador (Jornal de Negócios, Lisboa)
- Higiene política por Vasco Pulido Valente (Público, Lisboa)
- Responsabilidade Fiscal e Sex Shop por José Sarney (Jornal do Brasil, Rio)

Responsabilidade Fiscal e Sex Shop 

Jornal do Brasil
por José Sarney, Presidente do Senado

Um avanço extraordinário para moralização da administração pública foi a criação da Lei de Responsabilidade Fiscal. Trouxe uma transformação institucional vigorosa para extinguir a irresponsabilidade de gestores públicos que não dão bola a qualquer controle.

A primeira destas diretrizes é a de que ninguém pode gastar mais do que arrecada. A lei regula os atos em todos os níveis da administração, desde o presidente até ao prefeito, visa à transparência e à obrigação legal de colocar à disposição da sociedade todas as informações sobre como se aplica o dinheiro do povo arrecadado em impostos. Dizem alguns que esta lei foi uma imposição do Fundo Monetário Internacional, o popular FMI. Qualquer que seja a inspiração é muito boa.

Vejamos o que ocorreu com os prefeitos que tomaram posse em 1º de janeiro. A gritaria foi geral. Os prefeitos que deixavam levavam tudo. Um caso, para chamar Cervantes para assunto tão cotidiano, foi exemplar: o acontecido na Prefeitura de Magé, no Estado do Rio de Janeiro. A nova prefeita, Núbia Cozzolino (PMDB), querendo receber tudo que era do município, entrou com uma ação criminal contra sua antecessora - também mulher - para apurar o sumiço de dois pênis de borracha e uma pelve feminina. É inqualificável o procedimento de surrupiar pênis do patrimônio da prefeitura, violando as normas da moralidade pública e ferindo a lei de responsabilidade. A prefeita Núbia chegou à descoberta desse procedimento quando encontrou notas fiscais da empresa Semina Produtos Educativos, que vendera os singulares instrumentos, para programas de educação sexual. Objetos dessa natureza, destinados à mais alta finalidade, uma vez desaparecidos, podiam ser utilizados com outros objetivos menos claros que não o de educar. A procuradora de Magé, dra. Marcele, declarou aos jornais que vai solicitar à diretoria de patrimônio do município a relação dos bens desaparecidos. A primeira parte da investigação concentrou-se em saber se realmente a firma vendera somente dois pênis ou se foram mais. A averiguação constatou que realmente o estoque para Magé fora modesto, apenas dois; mas para o ano de 2004 o Rio comprara 110 pênis, considerando que a população do Rio era menos instruída nessa área e necessitava de um esforço educativo sexual mais dinâmico, talvez pela proximidade do Carnaval.

O inquérito aberto contra a ex-prefeita de Magé inclui ainda a recuperação de uma geladeira e ar-condicionado. Esses bens, corria na cidade, eram necessários às aulas, gerando uma especulação secundária e investigação para saber porque geladeiras e ar-condicionado estavam ligados aos pênis desaparecidos.

A Lei de Responsabilidade Fiscal abriu espaços para um melhor controle social dos gastos, podendo o povo exigir e fiscalizar, até mesmo em audiências públicas.

Magé está cumprindo a lei. O que preocupa é que, se eles não forem encontrados, uma nova concorrência será aberta, convidando as Sex-shops, que poderão cobrar mais caro, dependendo das especificações do edital, pois são produtos com grande variedade. Cumprir a lei, mas a suspeita mais forte é de que os pênis estejam escondidos na geladeira roubada.

Higiene política 

Público
por Vasco Pulido Valente

Assisti, sem pasmo, ao momento de verdade de Francisco Louçã na conversa com Paulo Portas. Para Louçã, Portas não podia condenar o aborto, porque nunca tinha "gerado" e nunca vira o sorriso de uma filha. "Gerar" e ver o sorriso de uma filha parece que transforma um homem e o legitima para condenar ou defender o aborto. Esta idiotia, que no fundo não passava de uma insinuação torpe, indignou toda a gente e a própria esquerda. Aqui Louçã, o apologista da liberdade pessoal, caiu em si e o "Bloco" veio pressurosamente em seu socorro. Para o "Bloco" a coisa devia ser vista em "contexto". Que espécie de "contexto"? Ora muito bem: se Paulo Portas se declarava "conservador", estava necessariamente obrigado a viver como um conservador. No caso, a casar e a produzir, no mínimo, uma filha com um sorriso tão admirável como o sorriso da filha de Louçã. Caso contrário, era um hipócrita e merecia a uma boa correcção em público. Como costumava dizer o Partido Comunista, merecia que o "desmascarassem".

A técnica conhecida por "desqualificação do adversário" não nasceu ontem e não admira que persistisse no "Bloco", herdeiro do que havia de pior na tradição revolucionária clássica. Mas, dado o "contexto", talvez fosse de esperar do "Bloco" mais cuidado. Porque afinal quem são os senhores do "Bloco"? São uma centena de intelectuais de Lisboa e do Porto, com um eleitorado de classe média urbana, que subiram à custa de imaginárias "rupturas" com a moral tradicional, de um radicalismo inteiramente retórico e de um certo talento para a televisão. Nada disto é de esquerda e nada disto lhes permite falar em nome dos trabalhadores ou, de resto, de quem quer que seja. Não representam mais do que uma difusa repugnância pelo regime e as banalidades da moda ideológica do tempo. Se aplicassem a si próprios a regra que pretendem aplicar a Paulo Portas, também eles precisavam de mudar de vida. Repudiar a gravata, a favor de um arzinho "estudantil", não é identificação bastante com o povo explorado e oprimido. Se o conservadorismo pede a Paulo Portas que ele "gere" uma filha com um sorriso, o que não pedirá o trombeteado esquerdismo do "Bloco"? Uma pessoa treme de pensar e ninguém deseja que o dr. Louçã se incomode e sofra. Só convinha talvez que se coibisse de examinar a virtude do próximo e que não falasse tanto em "hipocrisia". Por razões de gosto e de higiene política.

O exterminador 

Jornal de Negócios
por Sérgio Figueiredo

Se nós, que fomos eleitos para esta Câmara, não trabalharmos em conjunto para fazer a reforma do Estado, as pessoas vão revoltar-se e farão a reforma por suas próprias mãos. E eu irei juntar-me a eles e lutarei ao seu lado». A frase podia ser de um revolucionário. E é. Mas não é de Che Guevara, nem de um deputado do Bloco de Esquerda.
Aliás, até pertence a um partido conservador, de direita, dos Estados Unidos e é governador da Califórnia.

Esse mesmo, Arnold Schwarzenegger. Merece a pena, nesta fase que atravessamos, perceber as razões da sua irritação. E a sua ameaça de ir para eleições antecipadas.

A ameaça até pode ser encenação – afinal o único talento que se lhe conhecia até ir a votos. Mas as razões do homem valem mais do que uma ficção de Hollywood. São sérias, são reais e até podiam estar na nossa campanha eleitoral.

O discurso do governador-actor republicano foi uma autêntica «declaração de guerra» aos grupos de interesse. Não os banqueiros sinistros, que a direita populista decidiu atacar, esperando conseguir assim o que as suas políticas não captam: votos de incautos.

Os interesses visados pelo Exterminador estão, paradoxalmente, entre os eleitores. Professores, não a classe, mas os incompetentes. Funcionários públicos, não por serem do Estado, mas pelos privilégios que os outros cidadãos não têm.

Enfim, um discurso que cá não se faz porque «não rende votos». A lição de Schwarzenegger é que ele quer ir a votos com este discurso. De ataque aos «insiders», que estão sentados à mesa do orçamento e unidos por corporações que estão nas tintas para o interesse geral.

As finanças da Califórnia não estão num estado muito diferente das nossas. O défice estrutural ronda os 8 mil milhões de dólares e as contas geracionais do Estado não mentem: as políticas sociais dos Democratas deixam de ser suportáveis até ao final desta década.

Infelizmente, em Portugal não temos contas geracionais. E, nos últimos anos, também não se tem utilizado muitas vezes a máquina de calcular. O PS fez parcerias para as estradas, o PSD para os hospitais, e os governos dos próximos vinte anos que paguem a factura.

E, em matéria de compromissos que o Estado já hoje tem assumidos com os futuros pensionistas, existe a convicção de que é muito... mas depois logo se verá quanto.

Não temos as contas geracionais dos californianos, mas conhecemos bem os seus problemas. E qual é o plano de Schwarzenegger para os erradicar? O tal plano reformador que, se os deputados não aprovarem, então dele o povo se encarregará.

Um tecto na despesa pública, que a impeça de crescer a ritmos superiores aos da receita fiscal. Um novo regime de segurança social para os futuros funcionários públicos, indexando as pensões às contribuições e não a direitos adquiridos.

Os professores pagos em função do mérito e não dos anos de carreira. E outras coisas do género para juízes, médicos e outras profissões muito bem organizadas, mas nunca avaliadas. Alguém pediu um Schwarzenegger?

Uma personagem de romance 

A Capital
por Luís Osório

O primeiro-ministro ainda em exercício, no dia em que assumiu o cargo, não tinha os seus impostos em dia. A investigação de Nuno Guedes mostra-nos ainda que Pedro Santana Lopes se aprestou a pagar o IRS e o IVA em falta na altura em que foi nomeado pelo Presidente da República para líder do executivo; e que foi presidente da Câmara de Lisboa, e vice-presidente do PSD, com dívidas fiscais que remontavam ao ano de 1999.

São factos extremamente graves para alguém que, no seu programa de governo, tem como primeira prioridade o combate à evasão fiscal e a perseguição a quem não cumpra com as suas responsabilidades perante o Estado. O responsável máximo pela coordenação dos assuntos do País - que tem como principal fonte de rendimento os impostos pagos pelos cidadãos em idade activa - não cumpre com as suas responsabilidades enquanto cidadão que deveria ser um exemplo ético.

A partir deste momento, Santana Lopes não tem credibilidade ou moral para exigir aos portugueses que cumpram os seus deveres para com a fazenda pública. É tão simples quanto isto.

Talvez este seja mais um pretexto para que o primeiro-ministro se vitimize. Tem-no feito em relação a quase tudo e a quase todos; companheiros de partido, oposição, jornalistas, Igreja Católica. Terá mais uma hipótese de tentar provar, aos olhos dos portugueses, que existe uma tentativa de assassínio político; que é verdade que teve os seus impostos em dívida, mas que isso é uma prova evidente de que trinta anos de vida política nunca foram aproveitados por si, ao contrário de outros, para enriquecer à conta dos poderes e negociatas; e que como muitos portugueses pagou com esforço e juros as suas dívidas.

Se disser algo de semelhante para se justificar, num certo sentido, Santana Lopes terá razão. De facto, ao que parece, não tem mais dinheiro do que o que recebe por mês e não se serviu da política para enriquecer. A sua personalidade, uma das mais fascinantes da história contemporânea portuguesa, presta-se a esse tipo de contradições, o que só realça a espantosa figura de um sedutor com capacidade para hipnotizar multidões com palavras e ilusões.

Santana Lopes tem qualquer coisa que a maioria não tem, qualquer coisa que o faz ser diferente dos outros, que o faz ser quase um dom-quixote idealista que luta contra a incompreensão e pela vontade de ser amado.

Mas o cargo de primeiro-ministro não se compadece com um tipo de personalidade claramente maior do que a vida. Por muito que nos continue a seduzir, e essa é a sua essência, ele não pode ser primeiro-ministro. Para bem de Portugal, para bem do PSD e para bem dele próprio. Sobretudo para bem dele próprio.

quinta-feira, janeiro 27, 2005

Índice de hoje 

- Sharon evoca la indiferencia aliada ante el holocausto (La Vanguardia, Barcelona)
- Kaddish en Auschwitz (ABC, Madrid)
- Auschwitz en el siglo XXI (La Vanguardia, Barcelona)
- Auschwitz, 60 ans après (Le Figaro, Paris)
- Auschwitz: capitalle de la nouvelle Europe (Le Figaro, Paris)
- O testemunho de Zalmon Gradowski (Le Temps, Genève)
- Discurso de Silvan Shalom na ONU (Ministério dos Negócios Estrangeiros de Israel)

Discours de Silvan Shalom à l’ONU 

Embaixada de Israel em França

« Ces os revivront-ils ? »
24 janvier 2005

Discours prononcé par Silvan Shalom, Vice-Premier Ministre et Ministre des Affaires Etrangères de l'Etat d'Israël
Traduction française : Menahem Macina

Session spéciale de l'Assemblée Générale de l'ONU pour marquer le soixantième anniversaire de la libération des camps de concentration

M. le Secrétaire général,
M. le Président,
MM. les Ministres des Affaires Etrangères, mes collègues,
Survivants de l'Holocauste,
Honorables Délégués,
Mesdames et Messieurs,
Il y a soixante ans, les soldats alliés sont arrivés aux portes du camp de concentration d'Auschwitz. Rien ne les préparait à ce dont ils allaient être témoins, en ce lieu et dans les autres camps qu'ils allaient libérer. La puanteur des corps, les piles de vêtements, de dents, de chaussures d'enfants.

Mais dans les récits des libérateurs, plus que l'odeur, plus même que les piles de corps, l'histoire de l'horreur s'exprimait sur les visages des survivants.

Le récit de Harold Herbst, un libérateur américain de Buchenwald, est le paradigme de beaucoup d'autres. Je le cite :

« Comme je marchais parmi les baraquements, j'ai entendu une voix ; je me suis retourné, et j'ai vu un squelette vivant qui me parlait. Il m'a dit, "Dieu merci, vous êtes venus". J'éprouvais un étrange sentiment. Avez-vous jamais parlé avec un squelette qui vous répond ? Et c'est ce que j'étais en train de faire. Plus tard j'ai vu des monceaux de ces squelettes vivants, laissés derrière eux par les Allemands ».

Il y a des milliers d'années, le prophète Ezéchiel a eu une vision similaire. Dans un des passages les plus célèbres de la Bible, le prophète décrit comment il parvint à une vallée remplie d'ossements. Ces ossements, dit Ezéchiel, sont la Maison d'Israël. Et ils sont desséchés, et leur espoir est perdu. Confronté à cette scène, il pose la question : Ces os revivront-ils ? Ces os revivront-ils ?

Ezéchiel a posé la question que se sont posés tous ceux qui ont libéré des camps : est-ce que de l’espoir ou de l'humanité peut émerger d'une telle horreur? Ces os revivront-ils ?

Aujourd'hui, sont ici, avec moi, ceux qui ont donné vie aux os desséchés, des survivants et des libérateurs. Des hommes comme Dov Shilansky, qui a combattu dans le ghetto, et est devenu plus tard Président du Parlement d'Israël, la Knesset. Comme Yossi Peled, qui, après avoir été arraché à la terreur des Nazis, est devenu, par la suite, Général en chef dans les Forces de Défense d'Israël, pour protéger son peuple des horreurs d'une autre calamité. Comme David Grinstein, qui a survécu aux camps de travail, et préside maintenant une organisation de restitutions aux travailleurs forcés sous le pouvoir nazi. Et des femmes comme Gila Almagor - aujourd'hui reine de la scène et du cinéma israéliens - qui a exprimé ses expériences de fille de survivants de l'Holocauste, avec un art qui a touché des millions de personnes.

Quand nous voyons ce que les survivants sont parvenus à créer, à bâtir, quand nous voyons leur contribution à l'humanité - à des familles, à des carrières, à la littérature, à la musique, et même à des pays - nous ne pouvons que nous émerveiller de leur force et de leur courage.

En même temps, quand nous voyons ce que les survivants ont donné à l'humanité, nous pouvons seulement commencer à imaginer ce qu'auraient pu donner au monde les millions qui n'ont pas survécu. Nous pleurons leur perte, jusqu'à aujourd'hui. Chaque fibre de notre être perçoit leur absence. Chaque famille connaît la souffrance, y compris la mienne - les grands-parents de mon épouse et sept de leurs huit enfants ont été raflés et tués.

M. le Président,
Israël et le peuple juif ont une dette envers les libérateurs des camps de la mort, et c'est aussi le cas de toute l'humanité. Face au mal indicible, ces libérateurs, provenant des nombreuses nations représentées ici aujourd'hui, ont montré l'aptitude humaine à faire le bien. Face à l'accablante indifférence à la douleur des autres, ils ont fait preuve de compassion. Face à la lâcheté, ils ont fait preuve de courage et de détermination.

Nous reconnaissons aussi le courage et l'humanité des Justes d'Entre les Nations, qui ont refusé de détourner les yeux. Des gens, tel Raoul Wallenberg qui a sauvé des milliers de vies juives, et dont la nièce, Nane, est ici, avec nous, aujourd'hui. Ces héros ont aidé nos ossements desséchés à revivre.

M. le Président,
Les ossements desséchés se sont remis à vivre, non seulement dans les êtres qui ont survécu, mais également dans les deux entités qui ont surgi des cendres de l'Holocauste : les Nations Unies et l'Etat moderne d'Israël.

La tragédie de l'Holocauste a donné une impulsion majeure au rétablissement de la patrie du peuple juif, sur sa terre antique. C'est ce qu'Israël proclame, dans sa Déclaration d'Indépendance:

L'Holocauste, qui a englouti des millions de Juifs d'Europe, a prouvé à nouveau l'urgence du rétablissement de l'Etat juif. Un Etat qui résoudrait le problème de l'absence d'une patrie juive, en ouvrant les barrières à tous les Juifs, et en élevant le peuple juif à l'égalité au sein de la famille des nations.

Et, en effet, depuis sa création, Israël a donné asile à des juifs victimes de persécution partout dans le monde. En même temps, il a édifié une société, basée sur les valeurs de la démocratie et de la liberté pour tous ses citoyens, où la vie et la culture juives, la littérature, la religion et l'étude - toutes choses que les Nazis ont cherché à détruire - peuvent s'épanouir et prospérer.

Le fait que tant de survivants sont venus et ont joué leur rôle dans l'édification de l'Etat d'Israël, était en soi une remarquable réalisation de la prophétie d'Ezéchiel. Le prophète dit, en effet : « Ainsi parle le Seigneur : Vois, Ô mon peuple, je vais te tirer de tes tombeaux. Je mettrai mon esprit en toi et tu vivras dans ton propre pays, sur la terre d'Israël ».

M. le Président,
Si Israël représente une tentative héroïque de trouver une réponse positive aux atrocités de la Seconde Guerre mondiale, les Nations Unies en représentent une autre. Les toutes premières clauses de la charte de l'ONU témoignent de la volonté de ses fondateurs de faire de cette nouvelle organisation internationale une réponse du monde au mal, et vienne, je cite: « sauver les générations futures du fléau de la guerre », « réaffirmer la foi dans les droits essentiels de l'homme » et dans « la dignité et la valeur de la personne humaine ».

En nous assemblant ici, aujourd'hui, dans cette Session Spéciale historique, nous honorons les victimes, nous exprimons notre respect aux survivants, et nous rendons hommage aux libérateurs. Nous nous assemblons ici, aujourd'hui, pour ceux qui se souviennent, pour ceux qui ont oublié, et pour ceux qui ne savent pas. Mais nous nous assemblons également pour nous souvenir que la charte de ces Nations Unies, comme la Déclaration de l'Indépendance d'Israël, est écrite dans le sang des victimes de l'Holocauste. Et nous nous assemblons, aujourd'hui, pour nous dédier à nouveau aux nobles principes sur lesquels cette organisation a été fondée.

Une telle affirmation est nécessaire aujourd'hui, plus que jamais. La décennie passée a été témoin d'une augmentation effrayante des tentatives de nier la réalité même de l'Holocauste. Aussi incroyable que cela paraisse, il en est qui supprimeraient volontiers de l'histoire six millions de meurtres.

Y a-t-il quelque chose de pire que de détruire systématiquement un peuple, de prendre les fiers citoyens juifs de Vienne, Francfort et Vilna, et même de Tunisie et de Libye, de brûler leurs livres saints, de voler leur dignité, leurs cheveux, leurs dents ; d'en faire des numéros, du savon, des cendres de Treblinka et de Dachau ? La réponse est oui, il y a quelque chose de pire : perpétrer tout cela et le nier ensuite. Perpétrer tout cela et ôter ensuite aux victimes - et à leurs enfants et petits-enfants - la légitimité de leur peine.

Nier l'Holocauste, ce n'est pas seulement profaner les victimes et insulter les survivants. C'est aussi priver le monde des leçons qui en découlent - leçons qui sont aussi capitales aujourd'hui qu'elles l'étaient il y a 60 ans.

Ces leçons sont capitales aujourd'hui, pour trois raisons pressantes.

D'abord, parce qu'aujourd'hui, à nouveau, la peste de l'antisémitisme relève la tête. Qui aurait pu imaginer que, moins de 60 ans après Auschwitz et Bergen-Belsen, le peuple juif et Israël seraient la cible d'attaques antisémites, même dans les pays qui ont été témoins des atrocités nazies ? C'est pourtant exactement ce qui se produit. L'Holocauste nous enseigne que si les Juifs sont les premiers à souffrir de la haine destructrice de l'antisémitisme, ils sont rarement les derniers.

Les leçons de l'Holocauste sont capitales pour une seconde raison : parce qu'aujourd'hui, une fois de plus, nous constatons qu’un processus de délégitimation et de déshumanisation, à l’encontre des Juifs et d'autres minorités, est à l’œuvre, ce même processus qui prépara le terrain à la destruction. N'oublions pas. L'extermination brutale d'un peuple n’a pas commencé avec des fusils ou des chars, mais avec des mots, des mots décrivant systématiquement le Juif - l'autre - comme moins que légitime, moins qu'humain. N'oublions pas cela, quand nous trouvons des journaux et des livres de classe actuels qui empruntent des caricatures et des thèmes au journal nazi Der Sturmer pour décrire des Juifs et des Israéliens.

Et enfin, ces leçons sont capitales, aujourd'hui, parce que nous sommes témoins de nouveau d'un assaut violent contre le principe fondamental de la sainteté de la vie humaine. Peut-être la plus grande idée de base que la Bible ait donnée à l'humanité est la simple vérité que tout homme, toute femme, tout enfant, est créé à l'image divine, et a donc une valeur infinie. Pour les nazis, la valeur d'un être humain était limitée, voire déplorable. L'essentiel était de savoir quelle somme de travail il pouvait accomplir, quelle quantité de cheveux une femme pouvait fournir, combien de dents en or il avait. Pour les nazis, la destruction d'un être humain, ou d’une centaine, d’un millier, de six millions, était sans importance. Elle n'était qu'un moyen pour une fin perverse.

Aujourd'hui encore, nous avons comme adversaires les forces du mal, pour lesquelles la vie humaine - que ce soit celle des civils qu'ils prennent pour cibles, ou celle de leur propre jeunesse qu'ils utilisent comme armes - est sans valeur : elle n'est qu'un moyen pour atteindre leurs buts. Nos sages nous enseignent que « celui qui prend une seule vie, c'est comme s'il avait pris le monde entier ». Aucune vie humaine n'a moins de valeur qu'un monde. Aucune idéologie, aucun ordre du jour politique, ne peuvent justifier ni excuser que l'on prenne délibérément une vie innocente.

M. le Président,
Pour six millions de Juifs, l'Etat d'Israël est venu trop tard. Pour eux, et pour d'innombrables autres, les Nations Unies sont aussi venues trop tard. Mais il n'est pas trop tard pour renouveler notre engagement envers les buts pour lesquels les Nations Unies ont été fondées. Et il n'est pas trop tard pour s'atteler à l'édification d'une communauté internationale qui reflétera pleinement ces valeurs ; qui combattra sans compromis l'intolérance à l'égard des gens de toute foi et de toute appartenance ethnique ; qui rejettera l'indifférentisme moral ; qui appellera le mal par son nom.

Nous ne saurons jamais si l'existence des Nations Unies aurait empêché l'Holocauste. Mais cette Session Spéciale confirme aujourd'hui la nécessité, pour les Nations Unies comme pour chaque Etat membre individuellement, de s'engager à nouveau à ce qu'il ne se produise plus jamais. Dans ce contexte, je voudrais exprimer ma satisfaction au Secrétaire général pour la qualité morale de sa parole et la maîtrise avec laquelle il a mené cette Session Spéciale à bien, ainsi qu'à mes collègues Ministres des Affaires étrangères pour leur présence ici aujourd'hui.

Alors que le nombre de survivants ne cesse de diminuer, nous sommes proches du moment où cet événement terrible se transformera de mémoire en histoire. Tous réunis ici, promettons de ne jamais oublier les victimes, de ne jamais abandonner les survivants, et de ne jamais permettre qu'un tel événement se répète.

En tant que Ministre des Affaires étrangères d'Israël, Etat souverain du peuple juif, je me tiens devant vous et je jure, au nom des victimes, des survivants et de tout le peuple juif : Plus jamais !

O testemunho de Zalmen Gradowski 

Le Temps

Le témoignage de Zalmen Gradowski: «Tous ces corps, toutes ces vies, dans cette brouette de cendres»

Extraits des notes de Zalmen Gradowski, retrouvées en 1945 lors des fouilles effectuées près du crématoire III de Birkenau par la commission d'enquête de l'armée soviétique. Elles font partie du livre «Au cœur de l'enfer: Document écrit d'un Sonderkommando d'Auschwitz – 1944», publié en 2001 aux Editions Kimé, à Paris. La traduction du yiddish est de Batia Baum.

Cher lecteur, j'écris ces mots aux heures de mon plus grand désespoir, je ne sais ni ne crois que je pourrai jamais relire ces lignes, après la «tempête». Qui sait si j'aurai le bonheur de pouvoir un jour révéler au monde ce profond secret que je porte en mon cœur? Qui sait si je pourrai jamais revoir un homme «libre», si je pourrai lui parler? Il se peut que ceci, ces lignes que j'écris soient les seuls témoins de ma vie d'autrefois. Mais je serai heureux si mes écrits te parviennent, libre citoyen du monde. Une étincelle de mon feu intérieur se propagera peut-être en toi, et tu accompliras dans la vie au moins une partie de notre volonté, tu tireras vengeance, vengeance des assassins!

Cher découvreur de ces écrits!

J'ai une prière à te faire, c'est en vérité mon essentielle raison d'écrire, que ma vie condamnée à mort trouve au moins un sens. Que mes jours infernaux, que mon lendemain sans issue atteignent leur but dans l'avenir.

Je ne te rapporte qu'une part infime, un minimum de ce qui s'est passé dans cet enfer d'Auschwitz-Birkenau. Tu pourras te faire une image de ce que fut la réalité. J'ai écrit beaucoup d'autres choses. Je pense que vous en trouverez sûrement les traces, et à partir de tout cela vous pourrez vous représenter comment ont été assassinés les enfants de notre peuple. [...]*

[...] Dans la grande salle profonde, au milieu de laquelle douze piliers soutiennent la charge du bâtiment, brille maintenant une vive lumière électrique. Le long des murs, autour des piliers, des bancs avec des crochets pour les vêtements des victimes sont prêts depuis longtemps. Sur le premier pilier est cloué un écriteau, en plusieurs langues, avisant les arrivants qu'ils sont arrivés aux «bains» et qu'ils doivent ôter leurs vêtements pour les faire désinfecter.

Nous nous sommes retrouvés avec elles, et nous nous regardons, pétrifiés. Elles savent tout, comprennent tout, qu'ici ce ne sont pas des bains, que cette salle est le corridor de la mort, l'antichambre de la tombe.

La salle s'emplit sans cesse de monde. Il arrive toujours plus de camions avec de nouvelles victimes, et sans cesse la «salle» les engloutit. Nous restons tous comme hébétés, incapables de leur dire un mot. Ce n'est pourtant pas la première fois. Nous avons déjà reçu bien des transports avant elles, et pareilles scènes, nous en avons vu bien des fois. Pourtant nous nous sentons faibles, comme si nous allions défaillir, sans force, avec elles.

Nous sommes tous stupéfiés. Dans ces vieux vêtements, déjà usés, depuis longtemps déchirés, sont drapés des corps séduisants, pleins d'attraits et de charme. Tant de têtes aux boucles noires, brunes, blondes, et quelques rares têtes grises, nous regardent de leurs grands yeux noirs, profonds, ensorcelants. Nous voyons devant nos yeux de jeunes vies bouillonnantes, palpitantes, frémissantes, en fleur, gonflées de sève, abreuvées aux sources de vie, épanouies comme des roses poussant encore au jardin. Fraîches, baignées de pluie, gorgées de rosée matinale. A la lueur des soleils luisent les gouttes étincelantes de leurs yeux de fleurs – telles des perles. [...]

La première question sur toutes les lèvres est pour demander si leurs hommes sont déjà venus. Chacune veut savoir si son mari, son père, son frère ou son amant est toujours en vie. Ou si leur corps traîne quelque part raide mort, si les flammes le consument déjà et qu'il n'en reste plus trace. Et si elle-même est restée seule au monde avec son malheureux enfant, déjà orphelin. Elle a peut-être déjà perdu son père, son frère, son aimé. A quoi bon vivre en ce cas, pourquoi rester en vie? [...]

Nous les contemplons avec compassion, car nous voyons déjà devant nos yeux une nouvelle scène, une scène d'horreur. Toutes ces vies palpitantes, ces mondes effervescents, tout ce bruit, ce tapage qui s'en dégage, dans quelques heures tout cela sera mort et figé. [...] Je me tiens ici près d'un groupe de femmes, au nombre de dix à quinze, et dans une brouette se trouveront bientôt tous ces corps, toutes ces vies, dans cette brouette de cendres. Il ne restera plus aucune trace de toutes celles qui sont ici, toutes celles-ci, qui occupaient des villes entières, qui tenaient tant de place dans le monde, seront bientôt effacées, extirpées avec leur racine – comme si elles n'étaient jamais nées. Nos cœurs sont déchirés de douleur. Nous éprouvons, nous souffrons avec elles les tourments du passage de la vie à la mort. [...]

[...] On doit durcir son cœur, étouffer toute sensibilité, émousser tout sentiment douloureux. On doit refouler les atroces souffrances qui déferlent comme un ouragan dans tous les membres. On doit se muer en automate, ne rien voir, ne rien sentir, ne rien savoir.

Les jambes et les bras se sont mis au travail. Il y a là un groupe de camarades, répartis chacun à sa tâche. On tire, on arrache de force les cadavres hors de cet écheveau, celui-ci par un pied, celui-là par une main, comme cela se prête mieux. Il semble qu'ils vont se démembrer à force d'être tiraillés en tous sens. On traîne le cadavre sur le sol de ciment glacé et souillé, et son beau corps d'albâtre poli balaie toute la saleté, toute la fange sur son passage. On saisit le corps souillé et on l'étend au-dehors, la face vers le haut. Deux yeux gelés te fixent, comme pour te demander: «Que vas-tu faire de moi, frère?» Plus d'une fois tu revois une connaissance, avec qui tu as passé quelque temps avant son entrée dans la tombe. Trois hommes se tiennent là pour préparer le corps. L'un avec une froide tenaille, qu'il enfonce dans la belle bouche à la recherche d'un trésor, d'une dent en or, et quand il la trouve, il l'arrache avec la chair. Le deuxième avec des ciseaux, il coupe les cheveux bouclés, dépouille les femmes de leur couronne. Le troisième arrache vivement les boucles d'oreilles, bien souvent tachées de sang. Et les bagues qui ne se laissent pas enlever sont arrachées à la tenaille.

A présent on peut la livrer au monte-charge. Deux hommes balancent les corps comme des bûches sur la plate-forme, et quand leur nombre atteint sept ou huit, on donne le signal d'un coup de bâton, et l'ascenseur s'élève. [...]

[...] Là-haut, près du monte-charge, se tiennent quatre hommes. Deux d'un côté, qui tirent les corps vers la «réserve». Et deux autres qui les traînent directement vers les fours. On les étend deux à deux devant chaque bouche de four. Les petits enfants sont empilés en un grand tas sur le côté – ils sont ajoutés, jetés sur deux adultes. Les corps sont posés l'un sur l'autre sur la «civière» de fer, on ouvre la gueule de la géhenne, et on pousse la civière dans le four. Le feu de l'enfer tend ses langues comme des bras ouverts, s'empare du corps comme d'un trésor. Les cheveux prennent feu en premier. La peau se gonfle de bulles, qui crèvent au bout de quelques secondes. Les bras et les jambes se contorsionnent, veines et nerfs se tendent et font remuer les membres. Le corps s'embrase déjà tout entier, la peau s'est crevassée, la graisse coule, et tu entends le grésillement du feu ardent. Tu ne vois plus de corps, seulement une fournaise de feu infernal qui consume quelque chose en son sein. Le ventre éclate. Les intestins et entrailles en jaillissent, et en quelques minutes il n'en reste plus trace. La tête met plus de temps à brûler. Deux petites flammes bleues scintillent dans les orbites les yeux qui se consument avec la cervelle tout au fond, et dans la bouche se calcine encore la langue. Tout le processus dure vingt minutes – et un corps, un monde, est réduit en cendres. [...]

[...] Nous avions déjà vu passer sous nos yeux des centaines de milliers de vies jeunes et robustes, au sang vigoureux, tant de transports de Russes, de Polonais et aussi de Tsiganes, qui savaient qu'on les conduisait ici à la mort, et personne n'avait jamais tenté d'opposer une résistance ou de livrer un combat, tous étaient allés comme des moutons à l'abattoir. En ces seize mois, on ne peut citer que deux exceptions. Au cours d'un transport de Bialystok, un jeune homme intrépide et courageux s'était jeté sur les gardes avec des couteaux et avait poignardé plusieurs d'entre eux avant d'être abattu dans sa fuite. Le second cas, devant lequel je m'incline avec une profonde déférence, est celui du «transport de Varsovie». C'était un groupe de Juifs de Varsovie devenus citoyens américains, parmi eux certains nés en Amérique; tous ensemble ils devaient être transférés d'un camp d'internement en Allemagne pour la Suisse, où ils seraient placés sous l'égide de la Croix-Rouge. Mais le magnifique pouvoir hautement «civilisé», au lieu d'envoyer les citoyens américains en Suisse, les avait amenés ici au feu du crématoire. C'est alors que s'était produit cet acte de bravoure d'une héroïque jeune femme, une danseuse de Varsovie, qui avait arraché son revolver à l'Oberscharführer de la section politique d'Auschwitz, Kwakernak, et avait abattu le Rapportführer, ce bandit notoire, l'Unterscharführer Schillinger (1). Son acte avait donné des ailes à d'autres femmes courageuses, qui avaient frappé, lancé bouteilles et autres projectiles à la figure de ces bêtes sauvages et enragées, les SS en uniforme. [...]

(1) Le 23 octobre 1943 est arrivé, du KL Bergen-Belsen à Auschwitz, un transport de 1800 Juifs polonais. Lorsque, à l'entrée de la chambre à gaz du crématoire II, les victimes, toutes des femmes, comprennent qu'elles vont être gazées, l'une d'elles réussit à saisir le revolver d'un des SS et tire sur Joseph Schillinger, qui meurt pendant son transport à l'hôpital de Katowice, et sur le SS Unterscharführer Wilhelm Emmerich, qu'elle blesse.

* Les parenthèses [...] indiquent nos coupes.

Auschwitz, capitale de la nouvelle Europe 

Le Figaro
PAR ANNA ZÁBORSKÁ *

La commémoration des soixante ans de la libération d'Auschwitz risque de devenir un sport européen, avec son cortège d'abus et de déclarations piégées. Persiste, néanmoins, l'obligation du souvenir et de la condamnation de toutes les formes de totalitarisme et de propagande.

Auschwitz : eldorado de la mort et de la souffrance, chemin triomphal de la haine, allée du diable où le Mal se fiance au Mal. C'est ainsi que mon père, Anton Neuwirth, exprimait sa souffrance à l'issue de sa visite à Auschwitz où sa grand-mère, ses cousins, ses oncles et tantes, neveux et nièces avaient péri. Et il avait ressenti en visitant la chambre à gaz fraîchement repeinte combien le Mal, soigneusement arrangé, continue à provoquer la haine et le désir de revanche.

La paix, ce n'est pas seulement l'absence de guerre. C'est un état de justice. Pour un grand nombre d'entre nous, la libération d'Auschwitz ne s'est pas suivie de la paix et de la démocratie, comme on aurait pu logiquement s'y attendre. Sous une autre forme, les régimes totalitaires ont perduré et se sont même développés. Nos peuples ont perdu le pouvoir de disposer d'eux-mêmes. Nous avons été enfermés à l'intérieur des frontières oppressantes d'un empire, tandis que l'on cherchait à détruire non seulement nos traditions religieuses mais aussi notre mémoire historique et les racines séculaires de notre culture. De nombreuses personnes ont continué à être emprisonnées au mépris de tout droit humain élémentaire, pour avoir réclamé la liberté de conscience et la liberté de religion. Comme mon père.

Mon père qui écrivit ensuite, à propos d'Auschwitz : «Le silence lourd et terrible qui règne ici est comme un écho à la haine et à la revanche des victimes mortes avec la haine dans leur coeur. (…) Si personne n'a pardonné aux nazis, ici même entre ces murs, alors toute la souffrance n'a pas de sens (…). Parce que la souffrance qui ne donne pas la vie à l'amour n'a pas de sens.»

Auschwitz nous rappelle que vouloir pardonner est une attitude personnelle, individuelle et intime, libre, qui n'attend pas de retour. Aucun traité international ne peut remédier aux deuils. Sans pardon, il ne peut y avoir de réconciliation véritable. Les Etats ne peuvent se réconcilier si les citoyens, les hommes, ne décident pas, intimement, de pardonner.

Une réflexion ultérieure s'impose. Je pense à la propagande. En effet, Auschwitz n'était pas possible sans le recours à cet autre instrument d'anéantissement, par le dénigrement, les fausses accusations, l'orientation de l'opinion publique vers l'intolérance à travers des formes d'endoctrinement, spécialement des jeunes. Il est en effet typique que tous les régimes totalitaires mettent en marche une gigantesque machine de propagande, afin de justifier leurs propos ou leurs méfaits et d'inciter à l'intolérance idéologique. Celle-ci ne se limite pas à déformer les données de la réalité. Elle corrompt également l'information, rend le jugement moral et politique des citoyens très difficile et anéantit, partant, leur sens de la responsabilité. Le pluralisme des interprétations, l'analyse critique des causes, la recherche des véritables responsabilités laissent la place au soupçon et aux représailles. C'était vrai pour Auschwitz, et cela est encore vrai soixante ans après, sur le même continent, alors que la nouvelle Europe s'interroge sur son avenir et sur sa finalité.

Ce n'est pas un hasard si certains hommes d'Etat éclairés ont voulu créer un lien communautaire entre leurs pays après l'expérience dont Auschwitz est érigée en paradigme. Nourris de leur liberté de conscience et de religion, ils avaient compris qu'au-delà du bien de chaque peuple il existe un bien commun de l'humanité. Les intérêts d'une nation ne peuvent être convenablement défendus que dans le contexte d'une interdépendance solidaire avec les autres peuples. Mais ils n'ont pas confondu l'interdépendance solidaire avec la dilution de leur autonomie politique, de leur héritage culturel et juridique national propre. Cette leçon n'a encore été ni pleinement ni partout reçue. Pourtant, elle reste et doit rester comme un avertissement.

Auschwitz fait à nouveau partie de l'Union européenne. Si nous le décidons, Auschwitz peut devenir capitale de la nouvelle Europe. Une fois de plus, l'idéologie du «siège unique» relative aux lieux symboliques de l'Union européenne n'a pas de sens. Auschwitz et Strasbourg sont définitivement jumelées pour représenter à jamais les césures de l'Histoire du continent.

* Médecin de formation, elle a participé activement à la révolution de velours dans l'ex-Tchécoslovaquie, avant d'être élue au Parlement de Bratislava. Aujourd'hui député européen, elle préside la commission des droits de la femme et de l'égalité des genres du Parlement européen.

Auschwitz, 60 ans après 

Le Figaro
Auschwitz (Pologne) : de notre envoyé spécial Luc de Barochez

Les représentants de 44 pays marquent aujourd'hui à Auschwitz le 60ème anniversaire de la «libération» du principal camp d'extermination nazi par l'armée soviétique, le 27 janvier 1945. La cérémonie, inédite par son ampleur, vise à honorer la mémoire des victimes du plus grand crime de tous les temps, le génocide des Juifs d'Europe par le régime nazi. Mais, entre la nécessité du devoir de mémoire et l'entreprise de déculpabilisation collective, la frontière est étroite. Accusée par le président du Congrès juif mondial, Israël Singer, d'avoir «honteusement oublié» les leçons de la Shoah, l'Europe est venue en force à la commémoration.

Plus de vingt chefs d'Etat et de gouvernement d'Allemagne, d'Israël, des puissances alliées de la Seconde Guerre mondiale et des pays alors occupés, sont attendus. Ils vont assister à une cérémonie oecuménique et entendre la prière juive des morts, le kaddish. Le russe Vladimir Poutine est chargé de prononcer un discours au nom des libérateurs du camp. Le président israélien, Moshé Katzav, doit exprimer le souvenir d'au moins 1,1 million de Juifs qui y ont été tués. Le président allemand, Horst Köhler, doit garder le silence. Le vice-président américain, Dick Cheney, le prince Edouard de Grande-Bretagne, la reine Beatrix des Pays-Bas, le roi Albert II des Belges font le voyage, tout comme des milliers de déportés et d'anciens soldats de l'Armée rouge.

La France, où vit aujourd'hui la plus importante communauté juive d'Europe, a délégué plusieurs personnalités éminentes. Le président de la République, Jacques Chirac, doit inaugurer une exposition au pavillon français d'Auschwitz (voir encadré) et y prononcer une allocution, avant de prendre part à la cérémonie internationale. Le cardinal archevêque de Paris, Jean-Marie Lustiger, lira au nom du pape Jean-Paul II une adresse spéciale aux anciens déportés. La mère et une partie de la famille paternelle de Mgr Lustiger, qui est d'origine juive, ont été tuées à Auschwitz. L'ancien ministre et président du Parlement européen Simone Veil, déportée à 17 ans, doit prendre la parole au nom des anciens prisonniers juifs.

L'ampleur de la commémoration internationale contraste avec la discrétion du cinquantenaire, en 1995. De nombreux pays étaient absents ou représentés à un moindre niveau. Le président François Mitterrand était resté à Paris. La réunification du continent européen, les progrès de la conscience historique, le sentiment d'une responsabilité partagée, le réveil de l'antisémitisme, mais aussi l'amélioration des rapports entre la Russie et l'Europe, expliquent l'affluence d'aujourd'hui. Les dirigeants présents sont aussi mus par la volonté de rendre hommage, pendant qu'il est encore temps, aux détenus survivants et aux soldats qui les ont libérés. Ces derniers se reverront peut-être pour la dernière fois aujourd'hui autour du Mémorial puisque la cérémonie se déroule traditionnellement tous les dix ans. C'est aussi un passage de témoin entre générations qui a lieu aujourd'hui à Auschwitz.

Auschwitz en el siglo XXI 

La Vanguardia
por FRANCESC DE CARRERAS, catedrático de Derecho Constitucional de la UAB

Hoy hace 60 años que las tropas soviéticas entraron en el campo de exterminio de Auschwitz y liberaron a los ocho mil prisioneros que habían logrado sobrevivir. Comenzaba así el final de uno de los episodios del siglo XX que más deben hacernos pensar.

Durante la Segunda Guerra Mundial, los campos de concentración se extendieron por toda la Europa ocupada, desde Rivesaltes, un poco al norte de Perpiñán, hasta la Rusia profunda, ya cerca de Moscú, y desde el Báltico hasta el mar Negro. En ellos sufrieron y murieron millones de personas. Pero sólo Auschwitz y unos pocos más, todos situados en Polonia, fueron campos de exterminio: quien entraba en ellos estaba indefectiblemente destinado, tarde o temprano, a no salir con vida. Eran, en realidad, una antesala de la muerte.

Es equivocado pensar que todo ello fue debido a las circunstancias de la guerra, a la locura transitoria que provoca una situación de emergencia en la que debes hacer todo lo posible para continuar viviendo antes de que el otro acabe contigo. No se trata de la terrible alternativa que genera el dilema amigo/enemigo: una incompatibilidad por la existencia que puede justificar lo que en otras circunstancias sería un simple asesinato. No. El terror nazi fue algo perfectamente planificado y conocido.

El primer campo de concentración, el de Dachau, fue construido a las pocas semanas de la llegada de Hitler al poder, a principios de 1933. En él fueron encarcelados miles de prisioneros políticos: comunistas, socialistas y demócratas de todo tipo por el mero hecho de serlo. Unos días más tarde, los nazis comienzan a mostrar su violento acoso a los alemanes de procedencia judía boicoteando sus tiendas y negocios, y tres meses después se aprueban las primeras leyes discriminatorias por motivos de raza. Más adelante, en 1935, entran en vigor las llamadas leyes raciales de Nuremberg, en las que los alemanes de origen judío -y también los de origen gitano y de otras etnias, muchas veces injustamente olvidados- eran ya claramente considerados ciudadanos de segunda categoría.

Todas estas medidas fueron públicas. Pero ni la inmensa mayoría de los alemanes, ni buena parte del resto de los europeos, mostraron una excesiva preocupación. Grandes pensadores, como Heidegger o Carl Schmitt, rinden pleitesía al nuevo régimen. Otros, los más, callan y obedecen. Sólo unos pocos discrepan y deben exiliarse. Las democracias europeas tampoco rompen sus relaciones con la Alemania nazi: al contrario, tratan de buscarle acomodo en el sistema político continental. El pacto de Munich es el último, penoso y triste ejemplo.

Pero todo era conocido y estaba anunciado desde mucho antes, incluso antes de la llegada de Hitler al poder. El virus comenzó a inocularse en el momento en que se propagó, con éxito, una ideología antiliberal e integrista que utilizaba la violencia como método preferente de acción política para atemorizar a toda una población. El historiador Ferran Gallego, nuestro mejor especialista en esta materia, lo ha expresado así: "El nazismo no sólo lleva el miedo al poder, sino que lo alcanza por el poder del miedo". El terrible poder del miedo.

¿Cómo pudo pasar todo esto en la civilizada Europa y en la cultísima Alemania, a la vista de todo el mundo? Ello es lo más inquietante. En el mundo se cometen muchas barbaridades, antes y ahora. Pero para sacar lecciones de lo que Auschwitz representa debemos meditar la aguda observación de George Steiner: "Los hombres pueden leer a Goethe o a Rilke por la tarde, interpretar a Bach o a Schubert por la noche e ir a la mañana siguiente a su trabajo diario en un campo de concentración". Los nazis alemanes no eran unos tipos grotescos y crueles, sino, en su mayoría, normales y corrientes, buenos padres de familia, cumplidores en su trabajo. Podían, además, ser sensibles al arte y tiernos en sus sentimientos personales. Pero, sin duda, eran también fanáticos y esto es lo relevante para entender Auschwitz.

El fanatismo es, dicho brevemente, dar preferencia, en la manera de pensar, a la fe sobre la razón, a la pasión sobre la argumentación, al vencer sobre el convencer. El racionalismo, por el contrario, es el reverso del fanatismo. Como dice Karl Popper, "el verdadero ilustrado, el verdadero racionalista, nunca quiere convencer, es siempre consciente de que se puede equivocar; lo que pretende es provocar la formación de opiniones libres para así poder elegir mejor cuál de ellas tiene más peso". Pensar, desde este punto de vista, es ejercer la crítica mediante argumentos.

Auschwitz representa la negación de este tipo de pensar. Ahora bien, los campos de exterminio son un producto de un tipo de pensamiento, de otro pensamiento. De hecho, culminan una importante vertiente de la tradición alemana en los campos de la ciencia, la metafísica, la historia, el derecho y la política. Se trata de la vertiente antiilustrada, determinista y comunitarista, la de la Alemania profunda y eterna. El problema, pues, no es que existiera esta corriente, sino que se pudiera imponer sin crítica con el solo argumento de la violencia, sin libertad y contra la ley. Ahí está la génesis intelectual de los campos de exterminio.

Vivir en un sistema en el que se ejerza libremente la crítica mediante argumentos racionales para así contrastarlos con otros es el mejor antídoto para que Auschwitz no se repita en el siglo XXI.

Sharon evoca la indiferencia aliada ante el holocausto 

La Vanguardia

(Efe.) - La lección del holocausto es que "60 años después de la liberación de Auschwitz el mal que alentó el horror sigue presente y todavía nos amenaza", por ello "el Estado de Israel hace lo indecible para defender a sus ciudadanos y proporcionar seguridad a cualquier judío en cualquier parte del mundo", afirmó ayer Ariel Sharon.

Así se expresaba el primer ministro israelí en un discurso pronunciado ante el Parlamento reunido en sesión especial con motivo del 60.º aniversario de la liberación del campo de exterminio Auschwitz-Birkenau por los aliados durante la Segunda Guerra Mundial.

Según Sharon, la lección del holocausto, la de Auschwitz, es que "aquellos que estaban en el poder y se declaraban amigos no movieron ni un dedo". "Los aliados conocían la aniquilación de los judíos. Lo sabían y no hicieron nada. Todas las sugerencias de operaciones de rescate presentadas por varias organizaciones judías fueron rechazadas. Simplemente no quisieron enfrentarse a ello", dijo.

Sharon ilustró la apatía internacional con episodios como el del buque San Luis que, en 1939, con mil judíos a bordo que huían del III Reich, llegó hasta Cuba y el este de EE.UU. y retornó sin remisión con la carga humana a la que esperaban los campos de extermino.

Y "cuando en el verano de 1944 se llevan a cabo las deportaciones masivas de Hungría, los aliados no bombardearon los raíles de los trenes, no bombardearon los complejos de Birkenau, y ello a pesar de que podían hacerlo", remachó Sharon. "Los aliados -continuó- planearon ataques contra objetivos cerca de Auschwitz, pero se negaron a bombardear el propio campo, donde 10.000 judíos era asesinados a diario".

"La triste y la horrible conclusión -sostuvo- es que a nadie le importó que los judíos fueran asesinados".

El primer ministro israelí explicó que por ello el Estado de Israel desde su fundación, en 1948, "hace lo indecible para defenderse a sí mismoy a sus ciudadanos y por proporcionar seguridad a cualquier judío se encuentre donde se encuentre".

Sin embargo, agregó, este fenómeno "de los judíos defendiéndose y luchando es un anatema en el nuevo antisemitismo".

Kaddish en Auschwitz 

ABC
por ENRIQUE MÚGICA HERZOG, Defensor del Pueblo

EN esta hora, cuando conmemoramos la liberación de Auschwitz y de los demás campos nazis, se me agolpan, en un torrente apasionado, dos vectores principales que confluyen en mi memoria para enriquecerla y para estimularla. Un primer vector procede de mi propia experiencia infantil, vivida junto a mi madre y mi abuelo materno, que tanta influencia tuvieron en mi biografía personal. El otro, más reflexivo, pertenece a un interminable proceso de concienciación y perfeccionamiento; se encuentra íntimamente unido a la evolución de mi propio desarrollo ideológico e intelectual.

Por más que lo intente, no puedo evitar, en efecto, que por los vericuetos más intrincados de la masa de mi sangre y de mi mente deje de circular el recuerdo doloroso y oscuro de los campos de exterminio. De manera singular y tenaz, el de Auschwitz. Allá por el umbral de mis años adolescentes comenzó a mostrárseme con discreta evidencia el huracán silencioso de una tragedia familiar que traía ecos de muerte procedentes de aquel lugar, perdido casi en los límites fronterizos meridionales de la Polonia de mis antepasados, que más tarde iba a simbolizar todos los matices y la degradación última del crimen absoluto, el estandarte más macabro del mal y de la locura asesina. La noticia sobre la suerte de mis ascendientes maternos, originarios de Cracovia, a poco más de cincuenta kilómetros del campo maldito, permanece todavía en mi memoria lejana, bajo la forma de un eco despiadado e incesante, tanto más acusado por ser vivido en un ambiente de opresión añadida, debido a las condiciones de vida imperantes durante los muy duros años de la ocupación alemana, en Francia, y durante los primeros años del franquismo, en España.

Fue precisamente mi querido y perspicaz hermano, Fernando, con quien compartí aquellos dulces años iniciáticos, asesinado también más tarde por el despreciable fanatismo etarra, quien primero se percató de nuestra condición judía. Comenzó a sorprenderse de que, en casa, mi abuelo y mi madre se comunicaban de una manera extraña e incomprensible para nuestras entendederas infantiles. Al principio, creíamos que se trataba del idioma polaco y lo atribuíamos al intento de utilizar con nosotros determinadas claves para ocultarnos cosas «de mayores». Pero luego acabamos sabiendo que hablaban en yiddish. A partir de ahí, comenzamos a tomar conciencia de nuestra condición judía y del alcance de nuestro segundo apellido, Herzog.

El eco de aquel enigmático dolor callado aumentaba en casa con la progresiva toma de conciencia de nuestro ser de judíos. La narración del exterminio de nuestra bisabuela materna y de otros familiares en las cámaras de gas de Auschwitz, después de la noticia inicial recibida con tanto sigilo en aquel enrarecido mundo de bisbiseos y medias palabras, fue emergiendo poco a poco hasta presentar su volumen apropiado cuando fuimos capaces de darnos cuenta cabal de las cosas.

A esa lenta aparición de nuestra circunstancia y de nuestra sustancia judía, contribuyó de modo especial la escasa y gradual información disponible sobre las condiciones y el oprobio en los campos de exterminio. Por eso, a medida que esa información iba llegando, casi con cuentagotas, al ámbito familiar; a medida que se iban haciendo más y más perceptibles los círculos del infierno, el dolor aumentaba de intensidad, pero la conciencia, en lo relativo a nuestra especial cultura, iba densificando su trama de manera insensible y hasta cierto punto inexpugnable.

Bien es verdad que en las fronteras de la niñez y de la adolescencia, que pisábamos por aquel entonces, surgen nuevas y arrebatadoras preocupaciones, que a nosotros y a todos los chicos de nuestra edad nos parecían únicas e irrepetibles, y que atenuaban esa opresión ambiental. Pero también es cierto que nuevas y más rigurosas aproximaciones a la ignominia no han dejado de hacer su aparición. Películas, documentales, estudios, artículos periodísticos, biografías, memorias, testimonios de diversa índole, han contribuido a agrandar constantemente nuestra memoria y nuestra conciencia.

Esta actualidad inextinguible de los campos, manifestada asimismo en la conmemoración del 60º aniversario de la liberación de Auschwitz, una liberación, por cierto, completamente casual, me sirve para hacer referencia al otro vector principal al que me refería en un principio. El vector de mi propio crecimiento intelectual e ideológico. A partir de una cierta etapa de desarrollo formativo, a partir de unos ciertos niveles de maduración personal y social, Auschwitz también ha crecido en mí. Ha ido haciendo su perfil más nítido, llegando a alcanzar unas dimensiones inesperadas.

Quien se siente hijo de madre judía no deja de pensar un solo instante, consciente o inconscientemente, en Auschwitz. Y pensar así en Auschwitz tiene como consecuencia necesaria pensar el mundo de una manera determinada. Pensarlo, en primer término, como el teatro de operaciones de la misma condición humana. Si los campos han tenido una repercusión tan trascendente y tan intensa, ha sido precisamente porque mediante su nefasta experiencia han logrado sobrepasar los límites de lo imaginado en torno a la capacidad del ser humano para rebajarse en el ámbito de lo abyecto. Y téngase presente que sólo a partir de 1961, con ocasión del proceso Eichmann, comienza a revelarse en toda su crudeza el alcance del Holocausto. A partir de ahí, y de ciertos trabajos posteriores, los descendientes de quienes estuvieron en los campos comienzan a convertirse en «militantes de la memoria».

Este punto de despegue sirve también para apuntar la trascendencia de lo judío y su especial significado respecto de lo humano. De lo sencillamente humano. Se ha dicho, y con razón, que desde Auschwitz ya nada puede ser igual, y esto afecta a toda persona humana. Nos afecta a todos los hombres y mujeres del planeta, porque Auschwitz deja al descubierto el mecanismo de producción del horror desnudo. Desde ese mismo momento, se revelan en toda su crudeza las profundidades del mal que acechan al corazón del hombre.

Hace unos días, el cardenal Lustiger, arzobispo de París, con motivo de su participación en la Asamblea General del Congreso Mundial Judío, acertó a resumir la herencia del pueblo judío en Europa. «Siempre marginado, pero nunca lejos del centro -subraya Lustiger-. Casi siempre perseguido, pero nunca verdaderamente desaparecido». Y añade: «Puede decirse sin exageración que la conciencia europea ha quedado profunda e íntimamente marcada por la presencia de los judíos (...). ¿Cómo podría pensar Europa su futuro si desconociera la parte de su cultura que se debe a la presencia de los judíos en su seno?». No en balde la madre del cardenal, también judía, murió víctima de la deportación.

Desde otra perspectiva más cercana, con la madurez de la conciencia y la recuperación de las propias raíces, una vez conseguida la normalidad democrática en nuestro país, se me han hecho más admirables y más ejemplarizantes los modos de enfrentarse al mundo propios de mis antepasados judíos. La tolerancia, no desprovista jamás de firmeza; la vocación incesante por el estudio y el perfeccionamiento intelectual, en una sed incesante de saber; el amor, casi exagerado, por el libro y la cultura escrita, o la confianza sin reservas en el círculo familiar y de los amigos, son algunas de las características de ese comportamiento que a cada momento, me parece más necesario.

Por último, es preciso notar que, procedentes de las pavesas de Auschwitz, no dejan de llegarnos todavía partículas fertilizadoras y estimulantes. Y no sólo por medio de los impresionantes testimonios de quienes sufrieron en sus carnes el rigor y la humillación de los verdugos: Primo Levi, Jean Améry, Elie Wiesel, Imre Kertész o Jorge Semprún, entre una pléyade numerosísima. También el sencillo y eficaz «nunca más» de los supervivientes quería ser un testimonio desesperado ante quienes habían quedado fuera para que participaran en la difusión de la tragedia y trataran de evitar hechos parecidos en el futuro. Hoy día, ese «nunca más» forma parte de un patrimonio humano común y resulta aplicable a otras formas actuales de terror que, aun incomparables con la magnitud de la Shoah, siguen salpicando de horror nuestra convivencia.

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